
Ver o que o passado (ou)viu parte de um problema essencial: a experiência contemporânea de um edifício histórico é a experiência de um palco vazio, desactivado e silencioso. Longe de resultar em desencanto, esta experiência do património — que se reinventa e reactualiza — lança-nos antes na tentativa de (re)conhecimento do diálogo entre a arquitectura, os equipamentos móveis que a transformaram em cenário multímodo e multissensorial, e o som que terá feito parte do seu quotidiano.
Marcador emblemático do poder emergente de um reino recém-criado e de uma capitalidade que a retórica romanticamente medievalista e crescentemente nacionalista dos séculos XIX-XX não perdeu de vista, a Sé Velha de Coimbra foi sendo despida do que ainda restava de um interior outrora compartimentado em diversos espaços e declinado em diferentes volumes, profusamente decorado, visualmente saturado. Mas, ao contrário do que sucedeu nestes séculos, temos hoje a tecnologia, os dados e as ferramentas necessárias para devolver ao edifício aquilo que sucessivamente perdeu, ensaiando hipótese de reconstituição sem intervir sobre o edificado e sem ameaçar a sua integridade.